18/04/10

A História que ouvimos...linda....para iniciarmos o tema da Primavera e da mãe NATUREZA

Era uma vez
uma menina
chamada
Gotinha de Água.

A menina
Gotinha de Água
vivia
no mar sem fim.
E era linda,
tão linda,
vestida de esmeralda
e luar.
Ora no fundo,
ora nas vagas
coberta de espuma,
ela brincava
com suas irmãs.

Brincava
com os peixinhos,
dava-lhes beijinhos
e beliscões,
e fugia a rir
por entre as algas,
e jogava
às escondidas
com as anémonas,
que são as flores
de mil cores
que há no mar.

Às vezes,
vinha até à praia
e beijava
as pernas
e os cabelos
dos meninos.
Depois,
a rir
e a cantar
ia de novo
para o mar,
lá para o largo
ver as baleias
e os navios.

E a menina
Gotinha de Água,
vestida
de esmeralda
e luar,
e tão pequenina,
a força que ela tinha
de mãos dadas
às suas irmãzinhas!
Todas juntas
eram o Mar.
Um dia,
a menina
Gotinha de Água,
vestida de esmeralda
e luar,
estava a dormir,
a sonhar
à flor
do mar.

Então,
o Sol
beijou-a
na face,
e logo ela
como se voasse
subiu no ar.
Como se sentia leve!
Subiu,
subiu,
subiu
até que se viu
numa nuvem
cor-de-rosa.
Sorriu
de contente,
olhou em volta
e viu milhões
de gotinhas como ela
boiarem no ar.
— Cá estou eu nas nuvens! —
disse a Gotinha de Água.


Então o Sol
de contente
sorriu também
e ao beijá-la
nos cabelos
acendeu no céu
as sete cores
do arco-íris:
vermelho
alaranjado
amarelo
verde
azul
anil
e violeta.
Era tão lindo!

Tempos depois
vieram os ventos
e disseram à nuvem:
— Vamos.


E começaram
a empurrar
aquela nuvem
e as outras nuvens
que boiavam
altas e rosadas
sobre o mar.

A princípio,
a gotinha
estremeceu
de medo.
Mas depois
gostou
da viagem.
E as nuvens
viajaram.
Eram como grandes
navios
de algodão em rama.

Andaram
assim
dias e dias
sobre o Mar.

Até que uma tarde,
estava o Sol
a espreitar,
muito vermelho,
lá tão longe
que parecia
quase atrás do Mar,
a menina
Gotinha de Água
viu que voavam
sobre a Terra.

Olha as praias
lá em baixo!
E casas!
E meninos
a brincar!
E estradas
e pontes
e automóveis
e comboios
a passar!


Depois
o vento parou.
A gotinha
estremeceu
quando viu
dum lado a outro
do céu
as nuvens escurecerem
como breu.

Olhava
para baixo e via
a terra seca,
os campos secos,
secas as fontes,
as flores
e as searas
murchas,
e os homens
tristes,
muito tristes
sem pão
para darem
aos meninos.

Então,
a menina
Gotinha de Água
que tinha
nascido no mar
e usava
um vestido de esmeralda
e luar,
pensou:
E se eu fosse
dar de beber
às flores,
aos campos,
se eu fosse
matar a sede
e a fome
aos homens
e aos meninos?

E disse
muito alto
às suas irmãzinhas
— Vamos.
E deixou-se cair.
Ia à frente
de milhões
de gotinhas
todas vestidas
de esmeralda
e luar

e sorriam,
cantavam
e assobiavam
enquanto caíam.

A menina
Gotinha de Água
pousou
mesmo na boca
duma flor
que sorrindo
feliz
lhe disse:
— Bendita!
Bendita sejas!

E logo
uma abelha,
que andava por ali
em busca de pólen
para fazer mel,
pousou numa pétala
da linda flor
e falou-lhe assim:
Bom dia, meu amor.
Queres tu dar-me
um pouquinho
do teu pólen
para os meus favos?
E a flor
de pétalas
de ouro
abertas
e cobertas
de gotinhas de água,
todas vestidas
de esmeralda
e luar,
só lhe disse:
— Leva o pólen
que quiseres
para o teu mel!


O Sol
brilhava agora
cheio de alegria
e sacudia
a luz
da sua imensa cabeleira
sobre o mundo.
E as searas
que estavam a morrer
de sede
encheram-se
de espigas
e as árvores
abriram no ar
os braços
carregados
de frutos
tão docinhos:
ameixas
figos
maçãs, pêras e uvas!
E os homens,
as mulheres
e os meninos
agradeciam
satisfeitos
à chuva que viera
livrá-los
da sede
e da fome.
— Obrigado!
Obrigado!

Então,
a menina
Gotinha de Água,
vestida de esmeralda
e luar,
desceu
aos caminhos
escondidos
da terra,
passou
entre as raízes
das plantas,
desceu
desceu
desceu sempre
até que chegou
a um palácio
maravilhoso
de cristal
e platina
que havia
no seio
da terra.


Quando acordou,
que saudades
sentiu
do Mar!
E disse:
— São horas, irmãzinhas.
E puseram-se
a caminhar
lá nos caminhos
do fundo
da Terra.
Caminharam.
Caminharam.


Até que um dia,
um pastorinho
que levava
as ovelhas
para o monte,
— quem no diria? —
viu que duma fraga
brotava
uma fonte.

— Que lindo! —
disse o pastorinho,
e com uma folha
de castanheiro
fez uma bica
por onde
a menina
Gotinha de Água
e suas irmãzinhas,
todas vestidas
de esmeralda
e luar,
saltaram
alegres
a cantar.


Era
um dia de sol
na Primavera,
trinavam
os passarinhos
nos seus violinos,
tocavam os grilos
e os grilões
nos seus rabecões,
assobiavam os melros
nos seus flautins
e os sapos,
os sapinhos
e os sapões,
à porta
das suas casotas,
estavam a ouvir
contada
pelo sapo Zé Manel
a história
dum menino
que foi poeta e pastor
da Primavera
e que era
muito amigo
dos sapos
e sapinhos
e sapões
e de todos
os que são
(como os sapos)
humildes mas têm
bom coração.


Duas rolas cantavam
ao desafio
trru-trruu
trru-trruu
no alto dum pinheiro,
e um pica-pau,
tau-tau
tau-tau-tau
brincava
de carpinteiro.
Satisfeitas
e felizes,
as cigarras
faziam versos
ao sol
e à alegria
de viver:
como é bom amar
olaré, olaré,
o que o Sol aquece
e sonhar, cantar
olaré, olaré,
o que nos apetece.

E até
a senhora
Dona Formiga
sempre atarefada
e consumida
com a sua vida,
pousou o fardo
tão pesado
que levava
e estava
feliz, esquecida
ao sol da manhã…

A menina
Gotinha de Água,
vestida de esmeralda
e luar,
olhou o pastorinho,
olhou as flores
e os bichinhos
do monte
e disse-lhes:
— Bom dia, amiguinhos!


E pôs-se a saltar
de pedra em pedra,
a correr,
a saltar,
a cantar
toda contente.

Atrás dela
vinham
suas irmãzinhas,
e todas vinham
muito contentes
e felizes.


E tanto correram,
tanto saltaram
que em breve,
eia!
estavam
no ribeiro
ao pé do moinho.
— Olá, senhor moleiro
— Bom dia, meninas.

E as gotinhas
de água,
vestidas de esmeralda
e luar,
puseram-se
a empurrar
com suas mãozinhas
a roda
do moinho,
e o moleiro
todo contente
dizia:
— Obrigado!
Obrigado!

E seguiram.
Saltavam
de penedo
em penedo,
corriam
a cantar
entre os peixinhos
e as enguias
esguias
do ribeiro.


Caminharam.
Caminharam.
Por entre montes,
no meio de vales,
de aldeia em aldeia.

E eis
chegaram um dia
à enorme represa,
àquela albufeira
ainda vazia.

E toca a enchê-la
enche que enche
que queriam vê-la
a transbordar.

Quantos dias passaram?
Estavam agora no topo
da alta barragem.
Então
a menina Gotinha de Água
disse às suas irmãzinhas:
— Meninas, vamos agora
pôr a girar o pião
da electricidade!
— Vamos! vamos lá!
E lançaram-se
a toda a velocidade
do alto da barragem.
E
todas vestidas de esmeralda
e luar
enquanto empurravam
com quanta força tinham
as pás da turbina
felizes cantavam:
Roda que roda
gira pião
roda turbina
na nossa mão
canta rodízio
o novo prodígio
bailemos de roda
gira dança pião
ai roda que roda
na nossa mão.


Depois
outros rios
se vieram juntar
tecendo os fios,
os caminhos
a caminho do Mar.

Até que um dia...
um dia
eia!
chegaram ao estuário
do grande rio.

Eram
agora
milhões
e milhões
de gotinhas
de água,
a correr,
a brincar,
a cantar
a caminho
do Mar.


E havia
barcos
no rio
e homens
a pescar
e pontes,
vilas
e cidades
debruçadas
nas margens
a vê-las passar.


Uma tarde,
a menina
Gotinha de Água
estremeceu
de amor.
Uma gaivota
roçou-lhe
de leve
com sua asa.
Era o Mar
que estava perto!
O rio
era cada vez
maior,
mais largo,
mais fundo.
E havia
já grandes navios
e uma grande cidade
cheia de casas
e de gente.


A menina
Gotinha de Água
pôs-se a correr
mais ligeira
e disse
às irmãzinhas:
— Vamos, meninas,
toca a andar
que estamos
a chegar
à nossa casa
no Mar!


E uma toninha
que subia
o rio
deu um salto
fora da água
e disse:
— Ora viva
quem é
tão linda!


O céu
estava cheio
de gaivotas
que brincavam
com o fumo
dos navios
e gritavam
alegremente
quando viam passar
vestida de esmeralda
e luar
a menina
Gotinha de Água:
— Ora viva!
Ora viva!


Então,
a linda menina
Gotinha de Água,
vestida de esmeralda
e luar,
viu
que chegara
finalmente
ao Mar.

E desatou
a cantar:
Eu sou
a menina
Gotinha de Água,
gotinha azul
do Mar
que foi
nuvem
no ar,
chuva
abençoada,
fonte
a cantar,
ribeiro
a saltar,
rio
a correr,
e que volta
à sua casa
no Mar
onde vai
descansar,
dormir
e sonhar
antes que
de novo
torne a ser
nuvem no ar,
chuva
abençoada,
fonte
a brotar,
ribeiro
a saltar,
rio
a correr
e Mar
uma vez mais.

Sem comentários: